7º Congresso brasileiro de Saúde Mental da abrasme

No cenário desafiador imposto pela pandemia de COVID-19, a capacidade de adaptação e resiliência tem se destacado em diversas esferas da sociedade. Um exemplo notável é o 7º Congresso Brasileiro de Saúde Mental, inicialmente programado para ser realizado presencialmente na cidade do Recife, capital de Pernambuco, entre os dias 28 e 31 de julho de 2020. Contudo, diante dos impactos do vírus e das consequentes implicações na saúde pública e economia brasileira, o evento teve que ser reconfigurado. Assim, o congresso tomou a forma de um evento online, ocorrendo nos dias 09, 10 e 11 de dezembro do mesmo ano, trazendo à tona o tema central “Desorganizando posso me organizar: lutas, afetos e resistências antimanicomiais”.

A Associação Brasileira de Saúde Mental, conhecida como Abrasme, tem desempenhado um papel crucial na promoção de discussões e reflexões sobre questões pertinentes à saúde mental no Brasil. Neste contexto, o congresso ganhou uma importância ainda maior, considerando o momento sem precedentes vivido pelo país e pelo mundo. A mudança para o formato virtual permitiu que profissionais da saúde, acadêmicos e interessados de todo o país – e além dele – pudessem participar e contribuir, sem as limitações geográficas de um evento presencial.

O tema escolhido – “Desorganizando posso me organizar: lutas, afetos e resistências antimanicomiais” – revela uma abordagem ousada e reflexiva, alinhada com as complexidades da área de saúde mental e com os desafios sociais contemporâneos. As palavras “desorganizar” e “organizar” podem ser interpretadas como uma metáfora das mudanças necessárias nos paradigmas de saúde mental, enfatizando a importância de reconhecer e desconstruir estruturas obsoletas para dar lugar a abordagens mais inclusivas e eficazes.

Nesse sentido, o congresso visa a abordar as experiências de resistência encontradas nos saberes e práticas do cotidiano em diferentes territórios, especialmente em um contexto marcado não apenas pela crise da democracia, mas também pela Reforma Psiquiátrica brasileira e latino-americana. A interseção desses fatores cria um ambiente propício para debates profundos sobre o papel da saúde mental na sociedade, bem como para explorar as formas pelas quais a política, a cultura e a história influenciam as abordagens de tratamento e cuidado.

Um aspecto notável da identidade desta sétima edição do congresso é a sua inspiração no movimento Manguebeat, originado no Recife durante a década de 1990. Esse movimento artístico e cultural trouxe à tona questões de desigualdade, denunciando as disparidades entre os manguezais e o centro da cidade. O congresso procura, de maneira semelhante, transcender a superfície das representações convencionais do Recife, explorando a riqueza cultural e simbólica da cidade e conectando-a às lutas antimanicomiais e antiproibicionistas.

Em conclusão, o 7º Congresso Brasileiro de Saúde Mental da Abrasme representa um marco significativo na história da saúde mental no Brasil. Ao enfrentar os desafios impostos pela pandemia, o evento demonstrou a adaptabilidade e a resiliência da comunidade envolvida. Com um tema provocativo e inspirador, o congresso estimulou reflexões profundas sobre as complexidades da saúde mental em um mundo em constante transformação. A inspiração no movimento Manguebeat adicionou uma camada adicional de significado, conectando as lutas passadas e presentes em prol de uma abordagem mais humana e inclusiva para a saúde mental.